Mentalidade Fixa ou Mentalidade de Crescimento, de Carol Dweck
(In English, tomorrow, so stay tuned!)
Temos um novo episódio, onde discutimos duas perguntas:
- Que tipo de mentalidade tens?
- Como é que elogias?
Começo com um poema de Rumi, A casa de hóspedes
Isto de se ser humano é uma casa de hóspedes
A cada manhã uma nova chegada
Uma alegria, uma depressão, uma maldade,
Há alguma consciência que chega
como uma visita inesperada.
Dá-lhes as boas vindas e entretém-nos a todos!
Mesmo que sejam uma
Multidão de tristezas,
Que violentamente te varrem a casa
E a esvaziam de mobília,
Ainda assim, trata cada hóspede honrosamente.
Ele poderá estar a libertar-te
Para um novo deleite.
O pensamento negro, a vergonha, a malícia,
Encontra-os ‘a porta com risos,
E convida-os a entrar.
Sê grata por quem quer que venha,
Porque cada um foi enviado,
Como um guia do além.
As duas perguntas que trazemos hoje podem alimentar conversas longas e poderosas com os teus amados e contigo próprio. Comecemos com a 1a pergunta: que tipo de mentalidade tens?
É uma mentalidade fixa ou de crescimento? Um pouco de cada? O que é que isto quer sequer dizer? Uma mentalidade fixa é a crença de que a inteligência, os talentos e as habilidades são fixas e predeterminadas. Mas não se fixem em rótulos, por favor. A mentalidade faz mais sentido num espectro. Eu posso ter uma mentalidade de crescimento no que toca a preparar um episódio do podcast, porque adoro aprender e escrever, adoro partilhar, gravar e editar. Mas posso ter uma mentalidade mais fixa em termos de pintura, e acabo por nunca me inscrever em aulas porque acho que não tenho talento para pintar. Como tantas coisas na vida, não é uma questão disto ou daquilo, mas antes um pouco disto e um pouco daquilo, com um toque especial e único para cada pessoa em cada momento da sua vida.
A Carol Dweck e os seus colegas tinham curiosidade acerca da atitude de certos alunos em relação ao fracasso. Como é que os aprendentes reagiam ao fracasso? Eles notaram que alguns recuperavam enquanto que outros pareciam destroçados pelos mais pequenos contratempos. Depois de estudar o comportamento de milhares de crianças, Carol Dweck cunhou os termos mentalidade de crescimento e fixa, para descrever as crenças que as pessoas têm sobre a aprendizagem e inteligência.
Quando os estudantes acreditam que podem ficar + espertos/inteligentes (smarter) eles entendem que o esforço os torna mais fortes. Assim, eles esforçam-se mais e investem mais tempo, o que leva a maiores realizações. Um exemplo de mentalidade de crescimento é: Em vez de pensarem, “Não consigo fazer isto!”, eles e elas pensam “Eu não consigo fazer isto… ainda”.
Carol Dweck e os seus colegas descobriram que quem tinha uma mentalidade fixa tinha maior actividade cerebral quando lhes diziam se tinham acertado ou errado as respostas. Eles e elas tinham muito interesse em saber se tinham tido sucesso ou se tinham falhado. Mas tinham pouco interesse quando os investigadores lhes ofereceram ajuda para aprenderem com os seus erros. Eles não acreditavam que podiam melhorar, por isso não queriam tentar.
Pessoas com mentalidade de crescimento interessam-se por mudança e por desafios. Eu gosto do modo como Jacqueline Novogratz o diz no seu livro e curso online, “Change involves risk, and risk, which is not the same as recklessness, requires courage.” “A mudança involve risco e o risco, que não é a mesma coisa que imprudência, requer coragem.”
Achas que tens uma mentalidade fixa? Não te preocupes, podes mudar! A vida é um processo iterativo, a neuroplasticidade é uma realidade. Como eu disse + cedo, não é uma questão disto ou daquilo, mas antes uma questão de praticares aquilo que tu queres. A boa notícia é que a neurociência mostra que o cérebro é bem mais maleável do qeu aquilo que pensávamos dantes. Isto é especialmente bom para os cotas como eu que a’s vezes se questionam “serei velha demais para aprender isto?” A Resposta é não!
Como é que elogias?
Observa os teus elogios durante uma semana. Não só os que fazes aos outros, mas os que fazes a ti próprio ou a ti própria. Se te apetecer, partilha-os comigo. A Carol Dweck diz que algo tão simples como o modo como formulamos os nossos elogios pode ter um impacto significativo na nossa capacidade para melhorar.
Considerando que o cérebro é maleável, investigadores notaram que as práticas pedagógicas de professores têm um grande impacto na mentalidade dos alunos. O feedback que os professores dão aos seus alunos pode encorajar os seus alunos a escolherem um desafio e aumentarem o potencial de aprendizagem, ou pode influenciá-los a procurarem uma saída rápida e a quererem fazer trabalho que não os desafie. Os meus 20 anos de trabalho com crianças de escolas primárias confirma esta realidade. Isto pode ser aplicado ‘a paternidade e ao modo como lidamos uns com os outros de um modo geral.
Um elogio que ouvimos bastante é “és tão inteligente!” e há estudos que indicam que isto tem um impacto negativo na motivação e desempenho dos alunos. Num estudo com alunos do 5o ano, Carol Dweck e Mueller puseram crianças em 2 grupos e deram-lhes tarefas. Ambos os grupos começaram com tarefas mais fáceis, e estas foram ficando mais e mais complexas. A diferenca foi no modo como elogiaram cada grupo depois de terem experienciado sucesso. Um dos grupos foi elogiado pela sua inteligência e habilidade. O outro grupo foi elogiado pelo seu esforço. Quando as tarefas se tornaram mais complexas, os grupos reagiam de forma diferente. Os alunos elogiados pela sua inteligência preferiram continuar a trabalhar em tarefas mais fáceis, enquanto que os alunos que tinha sido elogiados pelo seu esforço escolheram tarefas mais complexas. No geral, elogiar a inteligência conduziu a menos persistência, a menos prazer, e a um desempenho pior, do que o elogio do esforço. Quando os alunos foram elogiados por terem uma habilidade elevada, eles atribuíram o seu sucesso a uma ideia fixa das suas habilidades, enquanto que os alunos que tinham sido elogiados pelo seu esforço acreditavam que o seu desempenho podia melhorar.
Em vez de escondermos deficiências ou limitações, podemos aprender com elas. Podemos procurar amigos e parceiros que nos desafiem a melhorar e a crescer. Eu confesso que cresci com uma mentalidade fixa. Lembro-me de ter conhecido alguém que se mudou para lisboa vindo de uma cidade mais cosmopolita e de me perguntar qual a minha seçcão favorita no museu Gulbenkian. E eu, que lá tinha ido para fazer piqueniques no jardim, ver exposições temporárias, era ignorante em relação ‘as exposições permanentes. A minha vergonha era tanta que eu disse que gostava de tudo ou algo assim. Porque senti aquela minha ignorância como uma ignorância inaceitável e que me tornava má pessoa. Agora olho para treas e vejo a oportunidade perdida para perguntar: “engraçado, nem sei, pq nõa conheco. E tu, quais as tuas partes favoritas?” Pouco depois disso, saí de Portugal para fazer voluntariado e acabei a trabalhar ‘a volta do mundo. Assim, aceito visitas guidas ‘as vossas partes favoritas se lá forem, porque Lisboa será a minha casa novamente!
Paa quê procurar apenas o que já foi testado e provado, em vez de procurarmos experiências que nos vão expandir? A paixão pelo esforço e pelo crescimento, mesmo (e sobretudo) quando corre mal é a marca registada da mentalidade de crescimento. Esta é também a mentalidade que permite que as pessoas prosperem durante alguns dos momentos mais desafiadores das suas vidas. Não é um lembrete útil agora, neste segundo ano de pandemia, quando todos nós fomos puxados e esticados de maneiras que nunca pudemos antecipar?
No seu livro, Carol Dweck escreve: “A outra coisa que as pessoas expecionais parecem ter é um talento especial por converter os contratempos da vida em sucessos.” Ultimamente tenho lido muitos textos estóicos e acho-os medicinais. A abordagem da Carol Dweck’s é também a meu ver estóica. Ela diz, “numa mentalidade de crescimento, o falhanço pode ser uma experiência dolorosa. Mas não te define. É um problema que se enfrenta, com que se lida, e com que se aprende.” Adoro esta ideia! Sejamos realistas, quando esta pandemia terminar, teremos outros desafios bem negros pela frente. Os altos e baixos fazem parte de uma vida saudável. A minha prima Sónia, que é uma médica incrível, explica isto bem com o gráfico do eletrocardiograma: só temos uma linha direita na morte. Os desafios com amigos e com a saúde fazem parte desta viagem da vida. Por isso em vez de nos sentarmos no quentinho do sofá, na esperança que tudo melhor e que um dia sejamos felizes, vamos lá por mãos na massa, enfrentar as tarefas que são nossas, sentir as dores que são nossas, e surfar as ondas da nossa vida. Não se trata de adoçar a pílula nem de psicologia positiva, mas simplesmente de aceitação e empoderamento.
Falando em empoderamento, não há nada mais bonito e poderoso do que aprendermos com os nossos erros. O lendário treinador de basquetebol John Wooden diz que tu não és um falhanço até começares a atribuir culpa. É aí que deixamos de aprender com os nossos erros — porque os negamos. Em vez de culparmos quem quer que seja e de fugirmos para a nossa zona de conforto, podemos esticar os nossos limites e aprender. Pensem no termo que o Vygotsky cunhou — zona de desenvolvimento proximal — aquela zona onde estás desconfortável mas ainda sabes o que se passa, e que com ajuda te pode ajudar a esticar as tuas competências. Jacqueline Novogratz diz, “just start — and let the work teach you. (…) Try. Fail. Try again.” “Começa simplesmente — e deixa que o trabalho te ensine. (…) Tenta. Falha. Tenta novamente.”
Deixo-vos com alguns exemplos concretos de comentários de mentalidade fixa (que se centram na pessoa ou no resultado) e como é que os podemos transformar em elogios de mentalidade de crescimento (que se centrum no processo e no esforço).
E tu, o que é que queres tentar?
Obrigada por escutares o podcast Ansiedade Minha Amiga comigo, Raquel Coelho. Se achaste que o episódio de hoje pode beneficiar um amigo ou uma pessoa querida, partilha-o. Grão a grão, criamos o mundo que queremos.
Recursos:
- Livro e curso de Jacqueline Novogratz: ‘Manifesto for a moral revolution’ acumen.org/moralrevolution/
- TED Talk de Carol Dweck: www.ted.com/talks/carol_dweck_t…hat_you_can_improve
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